Jornais de Itu séc. XIX e XX

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Coleção Digital de Jornais do Museu Republicano “Convenção de Itu” (MRCI/USP)

A coleção Jornais de Itu séc. XIX e XX, lançada em 16 de novembro de 2013, foi digitalizada, tratada e indexada pelas equipes do Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas (DT/SIBi), do Museu Paulista (MP) e Museu Republicano “Convenção de Itu” (MRCI), todos da Universidade de São Paulo.
Tal lançamento faz parte das comemorações dos 140 anos da “Convenção de Itu”, 90 anos de abertura do Museu Republicano e 50 anos de sua integração à Universidade de São Paulo (USP).
Os primeiros títulos que compõem esta coleção são: O Ytuano (1873-1875); Imprensa Ytuana (1876-1891) e República (1890-1926).
A Coleção de jornais impressos da Biblioteca do Museu Republicano abrange periódicos da segunda metade do século XIX até a década de 1930. Formam um conjunto de 11 títulos selecionados, contendo informações sobre o cotidiano da cidade de Itu e região. O período abrangido pelos jornais contempla os campos da História Política, Social, Econômica e Jurídica da sociedade brasileira, com ênfase no período entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, tendo como núcleo central de estudos o período de configuração do regime republicano no Brasil.

O jornal: fonte documental para pesquisas

Por se constituírem em repositórios de registros sistemáticos, diários ou periódicos, de informações dirigidas ao leitor comum, os jornais são importantes fontes documentais para muitos tipos de pesquisa, antes de mais nada quanto àqueles temas que, já à sua época, eram considerados relevantes e por isso foram mais amplamente abordados na imprensa.

No caso dos jornais de Itu, que formam a Coleção ora lançada em meio digital acessível on-line, já são conhecidos pelo que representam para pesquisas desenvolvidas em História Política, Social, Econômica ou Jurídica, a respeito de temáticas que já eram candentes no último quartel do século XIX e primeiras décadas do século XX –  escravidão e abolicionismo, questão da mão-de-obra livre ou escrava; movimento republicano e Primeira República; café, ferrovia, imigração, inícios de um processo de industrialização –, eixos centrais de muitas pesquisas sobre a província e depois estado de São Paulo, que abordam Itu e região exatamente pela importância de seu papel nessas questões.[1]

As campanhas de abolicionistas e republicanos e de militares descontentes com a política imperial valeram-se dos jornais ituanos para a veiculação de opiniões. O jornal O Ytuano, semanário editado desde 1873, já circulava quando da realização da Convenção, deu notícias pormenorizadas sobre a inauguração da Estrada de Ferro Ituana, ocorrida na véspera do evento republicano, e sobre a Convenção de Itu e seus desdobramentos.

Os periódicos revelam o ponto de vista regional, sobre questões nacionais, incluindo frequentemente em seus editoriais opiniões sobre a mão-de-obra escrava e livre. Muitas são as notícias de comércio de escravos transformando-se gradativamente em divulgação de fugas, libertações em massa e anúncios da vinda de navios trazendo imigrantes para formação das colônias nas fazendas da região. Em 30 de março de 1873, a Imprensa Ytuana publicou artigo em que habitantes de Porto Feliz reclamavam por medidas de segurança e tranquilidade em virtude da existência de diversos quilombos na região.

Com essa efervescência do movimento republicano e abolicionista em Itu e região, chegavam à cidade, notícia da assinatura do decreto n. 3353 que extinguiu a Escravidão no Brasil e, embora o sistema de comunicação entre as cidades da província fosse ainda precário, em Itu, na data de 17/11/1889 era publicada em primeira página da Imprensa Ytuana a constituição do governo provisório republicano e as comemorações da proclamação da república, ocorrida dois dias antes.

Também na História da Arte e na História da Cultura, os jornais ituanos têm sido procurados para pesquisas sobre artistas regionais, que ganharam projeção nacional, como Miguel Dutra, Almeida Júnior e Elias Lobo.[2]

É possível acompanhar a projeção de José Ferraz de Almeida Júnior, através das notas sobre premiações como é o caso de “Estudo de Modelo Vivo”, veiculado em O Ytuano. Ou ainda em maio de 1876 quando o pintor entrega três telas à maçonaria ituana: “Fé, Esperança e Caridade.” Em 1880 o Conde D’Eu visita o Ateliê de Almeida Júnior em Paris e mais uma vez a Imprensa Ytuana destaca o acontecimento, agora internacionalmente.

Como de costume no século XIX, os periódicos ituanos divulgavam em seus exemplares, obras de escritores nacionais e estrangeiros. Eram veículos de divulgação da literatura. Poemas, romances e folhetins ocupavam locais de destaque no jornal Imprensa Ytuana que veiculava em capítulos inicialmente semanais, passando a bissemanais e diários, que se dirigiam neste caso, especialmente ao público feminino.

A própria História da Imprensa já pôde ter apreciações a respeito da produção local graças à preservação dos jornais ituanos pelo Museu Republicano.[3]

Em todos esses casos, os pesquisadores vieram à Biblioteca do Museu Republicano para consultar os jornais locais ou foram atendidos à distância, sempre que possível.

Agora, porém, com o acesso on-line a esta preciosa Coleção, pode-se prever que venha a ocorrer um uso mais intenso destas fontes, não só nos universos temáticos em que já vêm sendo utilizadas mas também para enriquecer pesquisas voltadas a aspectos do dia-a-dia das cidades deste interior paulista, de seu comércio, sua gente, sua vida urbana, especialmente pelo exame continuado das séries de anúncios comerciais que permitem uma imersão nessa dimensão cotidiana para sua melhor compreensão.

Se em Ingleses no Brasil, que data de 1948, Gilberto Freyre era um pioneiro no uso da fonte jornalística e na defesa de seu alto valor documental, isto hoje se tornou recurso estabelecido para pesquisas acadêmicas de diferentes tipos. Naquele tempo, foi para apreender a presença inglesa no Brasil, não apenas por seus representantes mais conhecidos mas principalmente pela vasta gama de homens comuns que vindos da Grã-Bretanha aportaram no Brasil para aqui atuar e interagir, que Freyre fez uso dos anúncios de jornal e o justificou:

“porque os anúncios desses jornais velhos – tão desprezados pelos historiadores antigos (…) – nos transmitem informações sobre o lado mais profundamente humano do passado brasileiro que seria inútil esperar nos fossem revelados pelas crônicas ilustres. Não só o pitoresco, o dramático, o único irrompe dos anúncios: também o comum, o que se repete, o que em certas ciências se chama o demonstrativo em contraste com o denominado atípico: extremos que, aliás, não se repelem, como outrora se supunha, mas se alonga um no outro. Daí serem os anúncios material valioso para os estudos sociais, em geral, e para o sociológico, antropológico ou histórico-social, em particular …”.[4]

O uso de jornais como fonte de pesquisas tornou-se recorrente mas até hoje ainda há uma predominância dos grandes jornais de capitais de províncias/estados para este fim. Bem menos numerosos são os trabalhos que se valem de periódicos locais, de cidades do interior. Uma das razões para isto era a dificuldade de acesso que havia a esses documentos, que, a partir de agora, no caso da imprensa de Itu, torna-se amplamente acessível graças ao trabalho da Equipe da Biblioteca do Museu Paulista (MP), Museu Republicano “Convenção de Itu” (MRCI) e do Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (DT/SIBi USP), que permite inserir a Coleção de Jornais do Museu Republicano na Biblioteca Digital de Obras Raras e Especiais da USP.

A formação da Coleção

A Coleção de jornais da Biblioteca do Museu Republicano abrange periódicos da segunda metade do século XIX até a década de 1930. Formam um conjunto de 11 títulos selecionados do acervo de periódicos, contendo informações sobre o cotidiano da cidade de Itu e região. O período abrangido pelos jornais acompanha a temática institucional, que contempla o campo da História da Cultura Material da sociedade brasileira, com ênfase no período entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, tendo como núcleo central de estudos o período de configuração do regime republicano no Brasil.

Trata-se de um corpo de documentos significativos para a compreensão da história local e do Estado de São Paulo, na medida em que se constitui de notícias e crônicas sistemáticas, registradas ao longo dos anos e que, em muitos aspectos, complementa o acervo documental do Arquivo Histórico institucional. Lembramos ainda tratar-se de exemplares únicos e utilizados com frequência por pesquisadores de diferentes universidades e áreas do conhecimento, provenientes de todo país e do exterior. Cabe ressaltar que, com a ampliação do campo de atuação do historiador, mediante o surgimento de novas temáticas e devido à transformação da concepção de documento histórico, passou-se a privilegiar outras fontes, dentre as quais se destacam os jornais.

O núcleo documental que deu início à Coleção foi adquirido no ano de 1975, por meio da doação de exemplares que pertenceram ao jornalista e colecionador Newton Camargo Costa e que estavam sob a guarda do também jornalista Ednan Mariano Leme da Costa. Ednan, frequentador assíduo do Museu Republicano, também doou à instituição a coleção de livros e documentos do historiador ituano Francisco Nardy Filho e acompanhou ativamente os trabalhos de reorganização do Museu após sua reabertura em 1986, depois de um longo período de fechamento em razão de uma intervenção de restauro executada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Universidade de São Paulo (USP), sob coordenação do Museu Paulista (MP).

Esse primeiro conjunto documental foi enriquecido por doações de exemplares pertencentes ao Engenheiro Eduardo Pacheco e Silva, proprietário da antiga Fábrica São Luís, como também por novas doações do próprio Ednan Mariano. Nos primeiros anos da década de 1990, o Museu Republicano deu início à organização desse material, produzindo um primeiro catálogo impresso, em que constaram as principais informações para localização de cada exemplar: título, ano, volume, número e data do exemplar. Nesse momento, também foram realizados a higienização manual e o armazenamento em embalagens apropriadas.

O primeiro catálogo, impresso no próprio Museu, serviu durante anos como instrumento de pesquisa da coleção, que se tornou uma das mais consultadas por estudantes, jornalistas e pesquisadores das áreas de história, sociologia, arquitetura, jornalismo, além de escritores, genealogistas e interessados na busca de dados sobre a história local e regional.

Observando a grande demanda pela coleção, que subsidiou inúmeros trabalhos acadêmicos, livros e artigos, a equipe do Museu realizou campanha junto à imprensa local para complementação das coleções existentes. Em alguns casos, ainda há lacunas de exemplares, entretanto, nada que possa comprometer o valor da coleção. Títulos que se complementam cronologicamente e também na perspectiva ideológica, uma vez que registram os acontecimentos a partir de variadas óticas, de diferentes tendências políticas ou de caráter eminentemente religioso. São onze conjuntos que formam um caleidoscópio do cotidiano do interior paulista.

A partir da criação oficial da Biblioteca do Museu Republicano, no ano de 1995, e da contratação de sua bibliotecária, os exemplares foram inseridos no DEDALUS, catálogo online do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBi/USP), dando ainda maior visibilidade à Coleção, ocasionando, consequentemente, significativo aumento de demanda.

Devido ao manuseio intenso dos originais, aliado ao natural desgaste do papel jornal, suporte feito para uma curta vida útil, os exemplares começaram a apresentar sinais de acidez e ressecamento, levando à necessidade de restrições de pesquisa. Entretanto, cientes da importância do conjunto documental e da necessidade premente de preservação e acesso, no ano de 2010 decidiu-se pela transposição de suporte. A Coleção foi microfilmada e digitalizada a fim de garantir a integridade dos originais e a acessibilidade à informação. A providência foi de fundamental importância para salvaguarda da informação. No entanto, as consultas continuaram a ser realizadas apenas nas dependências da Biblioteca.

Visando ampliar ainda mais a acessibilidade ao conjunto documental, no ano de 2013 o Museu Republicano estabeleceu um plano conjunto com o Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBi/USP), a fim de viabilizar a disponibilização da Coleção através da Biblioteca Digital de Obras Raras, Especiais e Documentação Histórica da USP, integrante do Portal SIBi/USP, de forma a garantir a consulta on-line.

O trabalho de criação desta Coleção Digital teve o incentivo e o apoio da Direção do Museu Paulista e da Supervisão do Museu Republicano e envolveu as equipes do Departamento Técnico (DT) do SIBi/USP e das Bibliotecas do Museu Paulista e Museu Republicano “Convenção de Itu”. Os exemplares estão sendo novamente digitalizados em equipamentos de alta definição, permitindo excelente qualidade de imagem que, na sequência, recebem novo tratamento para melhor visibilidade do objeto digital. Na fase final, está sendo realizada a indexação individual dos exemplares de toda a Coleção para recuperação das informações necessárias à localização (título, procedência, data, volume e número do exemplar, nome dos editores e redatores, além de notas de raridade). A indexação de assuntos contempla notícias de maior relevância, recuperadas a partir dos termos disponíveis no vocabulário controlado do SIBi/USP.

Até o momento, foram digitalizados três títulos: O Ytuano, Imprensa Ytuana e Republica, que estão sendo disponibilizados nesta primeira etapa. Os trabalhos deverão prosseguir até a finalização de todos os títulos da Coleção.

Desta forma, a Universidade de São Paulo, por meio de suas bibliotecas, cumpre o papel de promover o acesso e incentivar o uso e a geração da informação, contribuindo para a excelência do ensino, pesquisa e extensão em todas as áreas do conhecimento. Mantém assim o compromisso com a democratização do acesso à informação.

Quanto aos originais, permanecem cuidadosamente armazenados conforme orientação técnica do Serviço de Conservação do Museu Paulista e periodicamente inspecionados.

Segue a relação integral de títulos disponíveis na Coleção, seguidos das datas limite.


[1] Alguns trabalhos que podem ser citados são: BASTOS, 1997; CERDAN, 2004; LEPSCH, 1999; SANTOS, 2003; ZEQUINI, 2004.

[2] DE FRANCISCO, 2001; SERGL, 1991; SINGH, 2004.

[3] ALMEIDA, 1983; ARRUDA, 2005; ESTRADA, 2005; GALVÃO, 2007; SOUZA, 1979.

[4] Gilberto Freyre. Ingleses no Brasil, 1948, capítulo II: “Os ingleses nos anúncios de jornais brasileiros da primeira metade do século XIX”.

Equipe Integrante do Projeto

Coordenação Geral

Professora Titular Sueli Mara Soares Pinto Ferreira

Diretora Técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo (SIBi/USP)

Biblioteca do Museu Paulista e Museu Republicano “Convenção de Itu” da Universidade de São Paulo

Coordenação

Márcia Medeiros de Carvalho Mendo

Bibliotecárias

Alline de Souza

Maria Cristina Monteiro Tasca

Técnicos

Alzira Bezerra Nóbrega

José Renato Margarido Galvão

Marcos Antonio Steiner

Rosemary Mendonça Martins Fernandes Gonçalves

Estagiários

Gabriel Barth Tarifa

Luiza Fonseca de Souza

Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da Universidade de São Paulo – (DT/SIBi USP) 

André Nito Assada, Técnico de Documentação e Informação.

Camila Molgara Gamba, Bibliotecária.

Cláudio Roberto Ferreira, Auxiliar de Documentação e Informação.

José Luiz Gomes da Costa, Técnico de Documentação e Informação.

José de Souza Araújo, Auxiliar de Documentação e Informação.

Laucivaldo Cardoso de Oliveira, Bibliotecário.

Paulo Ubiratan Costa Tormente, Estagiário, Graduando em História.

Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, Gastão Thomaz de. Imprensa do interior: um estudo preliminar. São Paulo: Convênio IMESP/DAESP, 1983.

ARRUDA, Paulo. Um século de informação. Revista Campo & Cidade. Itu, n. 36, abr./ Maio 2005. p. 31-33.

BASTOS, Maria Antonieta Toledo Ribeiro. A cidade de Itu: berço da república, um estudo de geografia urbana até a 1. República (1930). (Tese – Doutorado, USP, 1997).

CERDAN, Marcelo Alves. Praticando a liberdade. Uberlândia, 2004. (Dissertação – Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, 2004).

DE FRANCISCO, Luís Roberto. Elias Álvares Lobo: um monumento na música brasileira. Itu: Ottoni, 2001.

ESTRADA, Angélica. Leitura para todos os gostos. Revista Campo & Cidade. Itu, n. 36, abr./ Maio 2005. P.26-30.

GALVÃO, José Renato Margarido. Palavras que instruem. Itu: [s.n.], 2007. Trabalho vencedor do Concurso Literário Dr. Ermelindo Maffei.

FREITAS, Afonso A. de. A imprensa periódica de São Paulo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, v.19, 1915.

LEPSCH, Inaldo C.S. O Barão de Itaim. Itu (SP): Ottoni, 1999.

SANTOS, Fabiano Quicoli dos. Crimes contra a segurança da honra no segundo império na Comarca de Itu. Itu (SP): 2003. (Monografia – Faculdade de Direito de Itu, 2003).

SERGL, Marcos Júlio. Elias Lobo e a música em Itu. São Paulo, 1991. (Dissertação – mestrado, ECA-USP, 1991).

SINGH, Oséas. Partida da Monção: tema histórico em Almeida Junior. (Dissertação – mestrado, Depto de História da Arte e Cultura do IFCH- UNICAMP, 2004).

SOUZA, Claudete de. Formas de ações e resistência dos escravos na região de Itu – século XIX. (Dissertação – Mestrado, UNESP, 1998).

SOUZA, Jonas Soares de. Jornais e jornalistas ituanos. Imprensa Oficial do Município de Itu.  Itu, v.2, n. 102, 1 nov. 1979. p. 26-27.

ZEQUINI, Anicleide. O quintal da fábrica. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2004.

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